Ontem e hoje.


Autor: Marco Antonio Rodrigues.


Ontem vestia juventude. Hoje trajo roupa puída, desbotada, sem viço.
Ontem era sabichão. Hoje sei menos que ontem e o pouco que aprendi me assegura que sou menos ignorante.
Ontem era vassalo dos meus pensamentos, instintos e emoções. Hoje ainda sou subordinado a esse complexo sistema psicoemocional, mas ele agora não me senhoreia.
Ontem atrelava felicidade à fartura financeira. Hoje detecto melhor as ciladas.
Ontem sofria com as vicissitudes da existência. Hoje elas não passam despercebidas, mas a paciência me mostrou que tudo que nasce morre; em pequeno, médio ou longo prazo.
Ontem focava no dissabor e por isso agigantava-o.  Hoje descobri que há traços de ouro em qualquer mazela.
Depois que firmei compromisso com a realidade, as miragens que me raptavam com facilidade no “ontem”, encontram dificuldade para romper a blindagem que adquiri no “hoje”.
Não leva muito tempo para substituir o aluno rebelde pelo aprendiz atencioso. Esse processo acontece na crisálida localizada entre o “ontem” e o “hoje”. É preciso apenas acompanhar alguns strip-teases cíclicos praticados pelas árvores, que se despem do amarelo para se cobrirem de oliva. 
Roupa amarrotada não garante depuração! Mas vestimenta engomada quase sempre hospeda indivíduos brutos, inconscientemente sequiosos por lapidação.

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